Um dia atendi, à porta, um pedinte, e observando sua juventude, julguei-o preguiçoso e o condenei.
Condenando-o, senti meu coração pesado e carregado de cores escuras.
Ao dormir, naquela noite, sonhei.
Sonhei com o pedinte que, aos meus olhos espantados, transformou-se em alguém que era alvo do meu imenso amor.
Ao reconhecê-lo, ajoelhei-me, em convulsivo pranto, julgando-me além de tolo, cruel, e ao julgar-me, a mim mesmo condenei.
Punindo-me, senti meu coração pesado, carregado de cores escuras e queimando em brasas sufocantes.
Presa de meu infrutífero remorso, criei raízes grosseiras onde construí minha prisão, que julguei merecer, relegando-me à inércia.
Acomodando-me, senti meu coração pesado, carregado de cores escuras, queimando em brasas sufocantes e despedaçado.
Um dia, o pedinte veio à minha porta vazia, e observando a esquálida planta, tomou-se de compaixão e, com as mãos em concha, colheu água, molhando-me as já frágeis raízes, e julguei-o belo em seu verdadeiro amor, que me ensinava, por primeira vez, o sentido de sua universalidade.
E percebi que a condenação era a arma com que me executava.
Então chorei, e chorando, senti meu peito depor ao solo seu fardo de erros, ganhando tons mais suaves, balsamizando-se ao sabor das lágrimas sinceras, esvaziando-se da dor, e dispondo-se, enfim, à reconstrução.
Esticando uma mão, na forma de retorcido galho, em direção ao meu humilde benfeitor, senti suas lágrimas quentes, consumindo os resquícios de minhas dúvidas, revigorando-me a seiva, que inspirei profundamente, olhos cerrados, peito aberto em oração.
Orando, senti meu coração florescer, e quando abri os olhos, despertando do sonho revelador, vi-me sim, ajoelhado, aos pés do pedinte, que mais não era, além de Jesus, o Mestre de Amor!
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